O Circuito de Arte em boteco (Salvador, BA): a arte está onde o artista está
- CAB SALVADOR
- 28 de abr.
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Atualizado: 14 de ago.
Flávio Rocha de Deus - ABCA/Bahia

Como bem destacou Aracy Amaral (1983, p. 348), todo crítico enfrenta a “inerente dificuldade” de apreciar uma obra apenas por si mesma. Cada avaliação, análise ou opinião de gosto sempre estará permeada por “implicações de toda ordem, inclusive afetivas”, que influenciam, inegavelmente, o resultado de nosso exame. Neste ínterim, sendo as artes e os botecos duas grandes fontes de alegria para este que vos escreve, há de se indicar uma inclinação muito acidentada em meu juízo para exaltar qualquer coisa que consiga unir os dois, como é o caso do CAB, o Circuito de Arte em Boteco de Salvador. Ainda sim, de igual forma, como também nos lembra José França (1967, p. 35), o trabalho do crítico é, essencialmente, ver e fazer ver. Logo, neste escopo, sem nenhuma pretensão formalista, dedicar-me-ei, nestes próximos caracteres, a elencar as virtudes desta iniciativa que tanto brilha ante meus olhos.
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Realizado, até o momento, semestralmente, no bairro boêmio do Dois de Julho, em Salvador, o evento transforma dez bares em galerias temporárias ao longo de um percurso de 300 metros. Cada artista dispõe de uma mesa para apresentar suas obras, sem restrição de quantidade, permitindo uma curadoria livre e alinhada ao contexto do evento. A proposta não só intenta ampliar o acesso à arte, mas também questiona a escassez de espaços institucionais para exposição em Salvador, criando uma experiência em que o público pode interagir diretamente com os artistas, trocar ideias e conhecer as histórias por trás de cada criação.
Como percebido, o CAB amplia as estruturas tradicionais dos circuitos artísticos ao deslocar a experiência expositiva dos museus e galerias para os bares, o que promove um giro singular na lógica de atribuição de valor à arte. Como bem evidencia do meio artístico, tornando o reconhecimento um processo menos mediado por agentes institucionais e mais pautado pelo contato direto entre o artista e o público, o artista e sua arte, o artista e o outro artista: o que a arte contemporânea deve e intenta ser.
Texto completo em: Edicao-73-Flavio-Rocha-de-Deus.pdf

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